No contexto: seria um eufemismo enorme dizer que o relacionamento do resto do mundo com a Rússia tornou-se “tenso” nas últimas semanas. Após uma invasão não provocada na Ucrânia por seu vizinho maior, países de todo o mundo golpearam a Rússia com sanções sem precedentes, e muitas grandes corporações americanas seguiram o exemplo.
Gigantes do petróleo como a Shell agora se recusaram a comprar combustível russo, e cadeias de fast food como o McDonald’s decidiram fechar todos os restaurantes que abriram na Rússia. Até gigantes da tecnologia estão se juntando – com algumas exceções notáveis, como a Cloudflare. Apesar da pressão pública, o CEO da Cloudflare, Matthew Prince, se recusa a desativar o acesso aos seus serviços na Rússia após uma rodada de discussões com “especialistas do governo e da sociedade civil”.
A Cloudflare, para quem não sabe, é mais conhecida por fornecer proteção a sites e serviços da Web contra ataques DDoS, hackers, enxames de bots, enquanto melhora o tempo de carregamento do site e o armazenamento em cache para usuários comuns (entre outras coisas).
No momento, a Cloudflare ainda fornece seus serviços para cidadãos e empresas russas. No entanto, bloqueia o acesso de entidades afiliadas a instituições financeiras russas, campanhas de influência e organizações governamentais relacionadas a Donetsk e Luhansk.
Prince explicou por que se recusa a fechar o acesso a esses dois primeiros grupos em um longo post publicado no domingo. Nele, ele observa que “a Rússia precisa de mais acesso à Internet, não menos”. Ele elabora da seguinte forma:
À medida que o conflito continuou, vimos um aumento dramático nas solicitações das redes russas para a mídia mundial, refletindo o desejo de cidadãos russos comuns de ver notícias do mundo além das fornecidas na Rússia.
Também vimos um aumento nos esforços russos de bloqueio e limitação, combinados com os esforços russos para controlar o conteúdo da mídia que opera dentro da Rússia com uma nova lei de “notícias falsas”.
O próprio governo russo, nos últimos anos, ameaçou repetidamente bloquear certos serviços e clientes da Cloudflare. Terminar indiscriminadamente o serviço faria pouco para prejudicar o governo russo, mas limitaria o acesso a informações fora do país e tornaria significativamente mais vulneráveis aqueles que nos usaram para se proteger ao criticar o governo.
Em suma, Prince teme que encerrar a funcionalidade da Cloudflare na Rússia “indiscriminadamente” levaria menos cidadãos russos a ver além da propaganda e colocaria esses mesmos cidadãos em risco de represália do governo caso optassem por lutar digitalmente. De fato, Prince continua dizendo que o governo da Rússia “comemoraria” ativamente a paralisação da Cloudflare no país.
No geral, a equipe da Cloudflare (ou pelo menos sua equipe de liderança) acredita que fornecer aos russos comuns uma “internet mais aberta, privada e segura” é mais importante do que punir o país como um todo e, em última análise, fará mais bem à Ucrânia.
Mesmo que as crenças de Prince sejam bem fundamentadas, a Cloudflare, sem dúvida, continuará recebendo pressão do público e das autoridades ucranianas até que seus serviços russos sejam cancelados. Resta saber se a Cloudflare pode ou não suportar esse nível de calor a longo prazo.
Independentemente do que a Cloudflare ou qualquer outra corporação individual faça, esperamos que o conflito na Europa Oriental chegue a um fim pacífico mais cedo ou mais tarde.